Já passou muito tempo desde que voltei de Erasmus. Voltei no dia 16 de Março, depois de ter perdido o avião.
Este post já deveria ter sido escrito há muito tempo. Fiz alguns rascunhos dele, mas depois achei que não estava bem ainda. E depois não queria pensar e recordar que o Erasmus tinha acabado. Porque me custou muito voltar.
Custou-me deixar a vida que lá tinha. Custou-me deixar os hábitos que adorava. Custou-me cair na realidade de repente. Custou-me não poder (ou não ter escolhido) ficar o ano inteiro. E ainda me custa um bocado pensar em certas coisas.
Agora que já passou tanto tempo, consigo olhar para trás e recordar tudo (quase) sem nostalgia. Porque tive (tanta) sorte com as pessoas que conheci, e isso é sem dúvida o que de melhor se traz, sobretudo porque posso rever muitos deles (ainda que seja muitas vezes difícil). Agora olho para trás e vejo que tive sorte. E que se calhar foi bom ter sido só aqueles 6 meses, porque assim garanti que foi perfeito. Mas tenho saudades.
Tenho saudades da vida de Erasmus. De viver no centro da cidade, e ter um programa diferente, todos os dias. Tenho saudades de subir as escadas infinitas da casa da via Saldini e da via Astolfo. Tenho saudades de Os ver todos os dias. De comer em pratos de plástico nos grandes jantares, e beber vinho quente do mestre Luís. Tenho saudades de chegar às casas e de estarem sempre quentes. Tenho saudades de cozinhar ou ajudar a cozinhar para montes de gente. E depois sair para os sítios do costume. E beber invisibile fragola, aos pares. Tenho saudades de ir comer aos aperitivi grátis. De ouvir as músicas foleiras e repetitivas do Lotvs, de descer as escadas infinitas do Hollywood, de ouvir as músicas old school do Old Fashion, de nunca ter ido ao The Club, das moças das jaulas do Alcatraz, e da Rolling Stone, que sabíamos sempre como ia ser, e que fomos tantas vezes. Tenho saudades do frio,
da neve. Tenho saudades de andar de bicicleta. De ir de bicicleta para o curso de italiano, e passar nos semáforos amarelos dos peões. De sair do curso de italiano directo para os aperitivi. Com as malas também. Tenho saudades de ir tantas vezes à Piazza Duomo, de apreciar tudo, e de ir beber um Capuccino ao McCafé. De entrar e olhar para cima nas galerias Vittorio Emanuele. De passear na Via Torino. Tenho saudades dos crepes dos Navigli. De apanhar os autocarros, os eléctricos, e às vezes o metro. De ir carregar o passe, e aproveitar para beber café na esplanada de Arquitectura. De comprar as ricariche Wind, e de amaldiçoar o facto de não conseguir enviar mensagens. Tenho saudades de lavar roupa, e ter o quarto cheio de roupa a secar. De limpar a casa semanalmente, e amaldiçoar os outros coinquilini por limparem mal como a cara deles. De chegar à banheira e não ter água quente, e amaldiçoá-los outra vez. Tenho saudades de ir às compras de mochila de campismo com o Manel, e de devorar Gocciole e Pezzetti di Mela. De comer massa com atum e natas. Tenho saudades de tudo. De toda a rotina que se criou, e que não pensei, ou não queria pensar, que haveria de acabar.
Tenho saudades das viagens. Tenho saudades de chegar a casa cansado das viagens, e de saber que daí a uns dias, outro passeio estaria para vir. Porque já sabia que ia gostar. Tenho saudades de estar perto de tudo, de ter vontade e companhia para me meter num comboio ainda sem planos definidos. Tenho saudades de consultar diariamente o site da Ryanair, porque sabia que ia encontrar alguma coisa que agradasse a todos. Tenho saudades de fazer a mala na minha mochila Quechua de 40 L, que enchia em 10 minutos com tudo o que era preciso, tal não era o hábito. Tenho saudades do simples acto de convalidar o bilhete da Trenitalia, e de olhar para o placard das Partenze. Tenho saudades de passar pelos 16 passos das máquinas Biglietto Veloce. Tenho saudades de passar dias a comer sandes de supermercados, de andar quilómetros, e de já não sentir o cansaço. De chegar a casa ao fim dos dias, deitar-me no chão frio e apagar. Tenho saudades de rever em conjunto as fotografias das viagens, e rir-me delas. Tenho saudades de relembrar para mim próprio a longa lista de sítios visitados (Munique, Florença, Pisa, Cinque Terre, Padova, Veneza, Treviso, Bologna, Alpes suíços e franceses, Paris, Holanda, Lago Como, Turim, Sondrio, Verona, Roma, Trento, Innsbruck, Lago Maggiore, Genova, Praga, Estocolmo, se não me esqueci de nada).
Agora que já passou muito tempo, continuo com estas saudades. Mas só não teria saudades se não tivesse feito Erasmus. E fiz, e ainda bem. E ainda bem que o fiz com o Manel, por tudo o que ele referiu no post anterior. E tenho sorte por isso. Sorte pelo Erasmus que tive, pelas pessoas que conheci, e pelo que o Erasmus fez de mim. Ainda bem. Ainda bem que o fiz. E por tudo isto, não podia deixar de o ter relatado aqui, n’O blog, que nos acompanhou, e por onde nos acompanharam, apesar da distância. Do Erasmus trouxe o melhor possível, e excedeu em tudo as minhas expectativas. Obrigado a todos :)
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